Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Os agrotóxicos na sociedade consumocentrista: a sustentabilidade necessária 143 consumir desordenado, desmedido e exorbitante, definido na doutrina moderna como “hiperconsumo”, pois se sobrepõe a qualquer outro valor social e privile- gia tudo aquilo que é exagerado, objeto de desejo, buscando principalmente a satisfação dos prazeres individuais. Pereira, Calgaro (2016, p. 235) conceituam o hiperconsumo: O hiperconsumo é, como já se disse, o consumo exagerado, onde as pessoas consomem sem a real necessidade de sobrevivência, mas tão somente por exi- gências sociais. Muitas vezes se compra para ser aceito num grupo social, ou para mostrar aos demais que se tem poder econômico. Com essas atitudes des- regradas, o ser humano tornou-se o maior perigo para a destruição do meio ambiente, na forma como ele se oferece à conservação da vida. Verifica-se que o hiperconsumo extrapola a esfera das necessidades básicas do ser humano, atingindo um patamar excessivamente elevado, tornando-se for- ma de demonstração de poder numa sociedade que se norteia por valores econô- micos. Lipovetsky (2004, p. 28), ao analisar a era do “hiper”, destaca: Tudo se passa como se tivéssemos ido da era do pós para a era do hiper. Nasce uma nova sociedade moderna. Trata-se não mais de sair do mundo da tradição para aceder à racionalidade moderna, e sim de modernizar a própria moderni- dade, racionalizar a racionalização, ou seja, na realidade destruir os arcaísmos e as rotinas burocráticas, por fim a rigidez institucional e aos entraves protecio- nistas, relocar, privatizar, estimular a concorrência. Esta forma de organização social pautada primordialmente pelo consumo descontrolado gera efeitos nocivos ao meio ambiente, com a destruição dos ecos- sistemas e ao ser humano, com o surgimento de doenças. Não há como não se atribuir ao consumo desregrado grande parcela de responsabilidade na poluição do meio ambiente, diminuição da biodiversidade e aquecimento do planeta e, por outro lado, já se comprova uma série de doen- ças ocasionadas pela alimentação desregrada e muitas vezes contaminada por agrotóxicos. Pereira et. al. (2016, p. 267) vão ainda mais além, ao entender que a socie- dade já está adiante do hiperconsumo, trazendo o conceito de sociedade consu- mocentrista, onde o consumo passa a ser o elemento central da atividade humana: Entende-se que se ultrapassou a denominada sociedade hiperconsumista, dan- do azo a uma sociedade consumocentrista. Nesse viés, o consumo passa a ser o elemento principal das atividades humanas, deslocando o ser para o ter e, posteriormente, para o aparentar. Dessa forma, o consumo se torna o centro da sociedade contemporânea, onde o consumidor vai buscar todas as possibili- dades de sua nova razão de viver. Consumir é existir. O consumo, na sociedade consumocentrista, movimenta todas as ativi- dades do ser humano moderno. Adota-se um estilo de vida frenético, regulado pelo imediatismo e pela rápida fruição dos bens de consumo e seu instantâneo

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