Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias
Gisele Boechel, Agostinho Oli Koppe Pereira e Cleide Calgaro 142 É uma revolução cultural porque coloca a satisfação do prazer como um objetivo a ser alcançado por toda sociedade, assumindo os bens de consumo um papel de correspondente capaz de trazer bem-estar àquele que consome. Ao com- parar a sociedade de consumo à “sociedade do desejo”, Lipovetsky ainda afirma: Há algo mais na sociedade de consumo além da rápida elevação do nível de vida médio: a ambiência de estimulação dos desejos, a euforia publicitária, a imagem luxuriante das férias, a sexualização dos signos e dos corpos. Eis um tipo de sociedade que substituiu a coerção pela sedução, o dever pelo hedo- nismo, a poupança pelo dispêndio, a solenidade pelo humor, o recalque pela liberalização, as promessas do futuro pelo presente. A sociedade de consumo mostra-se como “sociedade do desejo”, achando-se toda a cotidianidade im- pregnada de imaginário de felicidade consumidora, de sonhos de praia, de lu- dismo erótico, de modas ostensivamente jovens (LIPOVESTKY, 2007, p. 35). Assim, o consumo alimenta o imaginário do ser humano moderno, aquilo que ele deseja e sonha, impregnando o hedonismo na sociedade moderna e impul- sionando a satisfação de seus anseios através do ato de consumir. Segundo Canclini (2006, p. 47), “desenvolvem-se formas heterogêneas de pertencimento, cujas redes se entrelaçam com as do consumo.” O ser humano moderno precisa consumir para se sentir parte da sociedade. A ideia do “ser” des- loca-se para o “ter”, tornando-se o consumo centro da sociedade, condição essen- cial para existência do homem moderno. Para Retondar (2007, p. 65), O século XIX, precisamente em sua segunda metade, será, deste modo, o mo- mento fundamental de ruptura onde o consumo passa a ser deslocado “do estômago para a imaginação”; momento que reflete a dissipação dos próprios objetos em suas representações, constituindo um novo modo de relacionamen- to onde a dicotomia fundamental deixa de ser entre “o produtor e o produto de seu trabalho” para a consolidação de um mundo onde as mercadorias e suas representações se tornam as verdadeiras mediadoras das relações sociais. No interior deste contexto, seria mais preciso dizer que, mais do que uma expan- são do consumo, será a expansão do consumismo enquanto uma nova ética de orientação de comportamento social que servirá de base de sustentação sim- bólica para a expansão do capitalismo e de uma sociedade de consumo efetiva- mente massificada, a qual irá se tornar, durante todo o século XX, o epicentro do desenvolvimento do mundo mercantil. Como o consumismo se torna um elemento constituinte do desejo, ele im- plica diretamente na questão da felicidade ou infelicidade humana. O ser humano deseja ser feliz. Consumir se transforma em satisfação dos desejos no sentido de felicidade. Desta forma, o consumo torna-se a “mola mestra” da nova sociedade, movimentando o interesse dos indivíduos e do mercado e norteando o comporta- mento social (PEREIRA, CALGARO, PEREIRA, 2016). Contudo, o consumo que tipifica a sociedade moderna contemporânea não se verifica como o simples ato de consumir, de desejar, mas sim por aquele
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