Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias
Gisele Boechel, Agostinho Oli Koppe Pereira e Cleide Calgaro 140 A proliferação de ameaças imprevisíveis, invisíveis, para as quais os instrumen- tos de controle falham e são incapazes de prevê-las, é uma característica tipifi- camente associada a um novo modelo de organização social que se caracteriza por uma dinâmica de poder baseada nas relações estabelecidas com o fenôme- no da inovação, e que encontra suas origens em uma fase do desenvolvimento da modernização, em que as transformações produzem consequências e ex- põem as instituições de controle e proteção das sociedades industriais à crítica, fato que constitui, para Beck, a sociedade de risco. A ideia de progresso na sociedade de risco está diretamente ligada à de crescimento econômico e se distancia, notadamente, da sustentabilidade global, ocasionando, inevitavelmente, a crise ambiental que se experimenta na contem- poraneidade. A economia tornou-se o critério e a lente para pensar e observar a organização da sociedade contemporânea. As tecnologias tornaram-se o principal vetor do desenvolvimento econômico, sobretudo as que estão pautadas na veloci- dade e multifuncionalidade dos processos. Constitui-se, assim, nos últimos sécu- los, uma cultura do desenvolvimentismo a todo custo. O que não progride ou não dá lucros é entendido como patológico. Impulsionar o progresso, numa obsessiva marcha adiante, é uma das ca- racterísticas marcantes da modernidade. A industrialização iniciada no século XVIII e seu direcionamento para o capitalismo de mercado pautado no lucro tem produzido uma aceleração da transformação do ambiente vital do planeta Terra (BAUMAN, 1999, p. 18). Percebe-se, assim, o grande viés capitalista que norteia as decisões da socie- dade atual, que dá maior importância ao progresso de cunho econômico do que às outras esferas passíveis de crescimento (PEREIRA; LUNDGREN; TONIAS- SO, 2014, p. 9). Dupas analisa a contradição contida no progresso em sua obra intitulada “O mito do progresso, ou progresso como ideologia”, e segue pela mesma linha de pensamento: O desenvolvimento da ciência e da técnica é a dinâmica central em torno da qual se organizam os discursos hegemônicos que mantêm a tentativa de asso- ciar a expansão do capitalismo ao progresso, entendido como assunção da feli- cidade por meio do livre mercado e do consumo (2012, p. 297). Mostra-se essencial à sociedade moderna, principalmente, a evolução cien- tífica, tecnológica e financeira, ficando a ascensão das outras dimensões sociais – como o desenvolvimento humano e da qualidade de vida – em segundo plano. Neste sentido, reflete Pereira et. al. que “a sociedade moderna, regida por ciências cognitivas seccionadas, atribui ao progresso científico e, consequente- mente ao econômico, a finalidade do ser humano” (PEREIRA; PEREIRA, 2008, p. 239). Para o autor: Percebe-se que a modernidade veio com o intuito emergente de progresso, lucro, poder, luxo, etc. Assim, a modernidade tem, como principal objetivo,
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