Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Os agrotóxicos na sociedade consumocentrista: a sustentabilidade necessária 139 os riscos envolvendo o meio ambiente e a saúde humana, é exatamente por isso que se trabalhará sobre ela. Segundo Ulrich Beck (2010, p. 23), “na modernidade tardia, a produção social de riqueza é acompanhada sistematicamente pela produção social de riscos”. Estes riscos, por sua vez, são riscos “modernos” e “globais”, já que têm suas causas na modernização e seus efeitos atingem uma dimensão global, conforme o autor: Os riscos e ameaças atuais diferenciam-se, portanto, de seus equivalentes me- dievais, com frequências semelhantes por fora, fundamentalmente por conta da globalidade do seu alcance (ser humano, fauna, flora) e de suas causas mo- dernas. São riscos da modernização. São um produto em série do maquinário industrial do progresso, sendo sistematicamente agravados com seu desenvol- vimento ulterior (BECK, 2010, p. 26). São riscos globalizados que não respeitam divisões entre ricos e pobres ou entre regiões do mundo, atingindo a todos discricionariamente. Significa dizer, portanto, que a sociedade moderna já está habituada a conviver com os riscos que ela mesma produz, e que inevitavelmente lhe alcançarão, no que Beck (2010, p. 45) chama de efeito bumerangue: “há um padrão de distribuição dos riscos no qual se encontra um material politicamente explosivo: cedo ou tarde, eles alcan- çam inclusive aqueles que os produziram ou lucraram com eles”. Isso porque os riscos que a sociedade corre têm alcance universal e são, quase que exclusivamente, derivados da própria intervenção (através da tecnolo- gia) da espécie humana no planeta. Significa dizer que, embora exista uma ten- dência dos riscos prejudicarem de forma mais significativa as camadas menos fa- vorecidas da sociedade, a fuga dos mais poderosos pode dar conta de evitar alguns riscos, mas não todos. Inevitavelmente, os riscos trarão consequências àqueles que lhes deram causa ou se beneficiaram deles, num efeito circular. Sobre o tema es- pecífico em análise na presente pesquisa, quais sejam os riscos trazidos pelo modo de produção da agricultura moderna, Beck (2010, p. 45) leciona: A produção de riscos da modernização acompanha a curva do bumerangue. A agricultura intensiva de caráter industrial, fomentada com bilhões em sub- sídios, não somente faz aumentar dramaticamente em cidades distantes a con- centração de chumbo no leite materno e nas crianças. Ela também solapa de múltiplas formas a base natural da própria produção agrícola: cai a fertilidade das lavouras, desaparecem espécies indispensáveis de animais e plantas, aumen- ta o perigo de erosão do solo. Diante da aceitação de tantos riscos, pelo homem moderno, no seu modus vivendi , resta permitida a exposição às ameaças mais diversas para obtenção de progresso e desenvolvimento; instituiu-se uma nova forma de organização social, pautada pela busca da evolução científica e tecnológica e pela potencialização da produção de riquezas, tudo isso através, principalmente, da exploração industrial da natureza. Trata-se da moderna sociedade de risco, descrita nas linhas abaixo por Leite e Ayala (2004, p. 12):

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