Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias
Agrotóxicos e Covid-19: uma reflexão necessária sobre a política brasileira de flexibilização da legislação... 125 vernos, como o brasileiro, usaram a pandemia para aprovar agrotóxicos em ritmo acelerado enquanto os olhos do mundo estavam mergulhados nos efeitos socioe- conômicos e de saúde causados pelo vírus. A pesquisadora do Laboratório de Toxicologia Aplicada do Instituto Bu- tantã, Mônica Lopes Ferreira, em entrevista realizada por Lu Sudré da Rádio Bra- sil de Fato, alerta sobre os riscos que os agrotóxicos trazem para a saúde dos bra- sileiros associando-os ao coronavírus, quando posiciona que a humanidade está “diante de um inimigo invisível, que é o vírus [...] Ele é invisível e está adoecendo e matando. O agrotóxico também é invisível”. Exemplifica dizendo que “quando estou comendo uma maçã, não enxergo o agrotóxico nela. Quando tomo água, não enxergo o agrotóxico. Mas ele está presente. E assim como o coronavírus, o agrotóxico também adoece e mata”. Denuncia que na água que a população brasi- leira bebe há um coquetel de agrotóxicos e que não existe dose segura. A pesquisa- dora ainda alerta que “estamos em um cenário muito complexo. De um lado, uma liberação massiva de agrotóxicos sem que saibamos que testes estão sendo feitos para que sejam liberados”. Do outro lado, os agrotóxicos são utilizados de manei- ra desenfreada e muito acima dos limites indicados na sua liberação. “As pessoas estão pulverizando cinco vezes mais do que é permitido pulverizar. Cai no lençol freático e chega nas nossas águas” (FERREIRA, 2020). Em outra questão, levantada por Lu Sudré para a pesquisadora Mônica Lopes Ferreira, indaga se a “quantidade excessiva de agrotóxicos pode comprome- ter nossa resposta imunológica à pandemia da Covid-19, por exemplo?”. Ferreira (2020) responde que o que mantém o ser humano bem é o seu sistema imune e que as “células estão prontas para nos defender desses agentes estranhos, vírus, bactérias” e para que o sistema imune esteja pronto para combater os invasores é preciso “estar em equilíbrio e ter me alimentado muito bem”. Relacionando com a Covid-19, a pesquisadora mostra que são as pessoas mais frágeis e do grupo de risco que estão mais expostas. Grande parte das doenças podem estar relacionadas à “água contaminada por um coquetel de agrotóxicos” e ao consumo de alimentos contaminados. Não estar saudável é deixar a porta aberta para o coronavírus ou para qualquer outro patógeno (FERREIRA, 2020). Diariamente o ser humano está exposto a poluentes ambientais em que os agrotóxicos representam um relevante grupo desses poluentes. Os alimentos, a água ingerida e a exposição direta de trabalhadores a agrotóxicos têm grande influência no microbioma humano. Se os alimentos e a água estiverem contami- nados com resíduos de agrotóxicos, seus efeitos à saúde humana podem ser asso- ciados à várias doenças, como o desenvolvimento de câncer, danos genéticos, mu- tações no DNA, alterações no sistema gênito-urinário, infertilidade, modificações na qualidade do sêmen, malformações congênitas no trato genital masculino, hi- pospádia, disrupção endócrina, desregulação hormonal, dentre outros riscos para o acometimento de diversas doenças em seres humanos (KOIFMAN; HATAGI- MA, 203, p. 79). Embora não no ritmo necessário, observa-se nas últimas décadas um esforço acadêmico voltado para a “compreensão dos mecanismos toxicológi- cos envolvidos na associação entre este tipo de exposição e o desenvolvimento de doenças” (KOIFMAN; HATAGIMA, 203, p. 79).
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