Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Haide Maria Hupffer, Elizete Brando Susin e Jeferson Jeldoci Pol 124 nacionais fabricantes de pesticidas e dos países que hospedam empresas produtoras de agrotóxicos se mostrou mais forte e avançou envenenando de forma sistêmica o planeta. Terras foram desmatadas e novas formas de cultivos agrícolas com uso de pesticidas foram criadas. O ser humano avançou no habitat dos animais e encurra- lou-os em espaços restritos, ou seja, expulsou os animais, destruiu os ecossistemas e o resultado foi que restou muito pouco do espaço vital natural para qualquer ser vivo, menos para o ser humano que foi se apropriando da natureza. O esplêndido retorno financeiro e a produção de alimentos para uma população que continua a crescer tem sido a justificativa para desenvolver produtos químicos extremamente potentes e que desequilibram os ecossistemas causando inúmeros efeitos colaterais. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO, ao divulgar a “Avaliação global de Recursos Florestais 2020”, denuncia que o desmatamento continua globalmente a níveis alarmantes com uma taxa de 10 milhões de hectares por ano. Países que flexibilizam regras de desmatamento jus- tificam suas ações indicando que o aumento rápido da população humana mun- dial, que era de aproximadamente um bilhão há dois séculos, para mais de 7,8 bilhões em 2020, exigiu ampliar a produção de alimentos, o que significou cada vez mais invasão de humanos em habitats naturais. Esse fato leva o ser humano e animais silvestres a um contato cada vez mais próximo, resultando no aumento do risco de transmissão de doenças de animais para humanos. A perda de habitat/ biodiversidade tem relação direta com o surgimento de doenças zoonóticas como a que deu origem à Covid-19 (UNEP, 2020, p. 29), A pandemia oferece a oportunidade de reexaminar as práticas de produção de alimentos ancoradas no uso de fertilizantes e pesticidas, como pontuam Mon- tgomery e Birké (2020). Estes produtos apenas gerenciam os sintomas do solo biologicamente prejudicado, mas não resolvem os problemas de fertilidade do solo e das pragas. Isso colocou a humanidade em uma situação terrível, porque a agricultura padrão, com utilização massiva de insumos, já degradou cerca de um terço das terras agrícolas do mundo. No século atual, a estimativa é de degradar mais um terço das terras agrícolas globais. Não há vacina para curar o que afli- ge os solos agrícolas. Por isso, o alerta dos autores é no sentido de urgentemente serem alteradas as atuais práticas e, em sequência, explorar novas possibilidades para salvaguardar a saúde do solo no médio e longo prazo, garantindo, assim, para as gerações presentes e futuras, culturas saudáveis e resistentes a doenças e pragas (MONTGOMERY; BIKLÉ, 2020). Para Montgomery e Biklé (2020), uma lição-chave da pandemia da Co- vid-19 em curso é que ela lança luzes sobre como transformar a agricultura. Os autores chamam a atenção que é necessário substituir as práticas convencionais degenerativas com a redução significativa de agrotóxicos, diesel e fertilizantes e apoiar práticas regenerativas. Esta é a melhor chance da humanidade para resol- ver os problemas ligados à saúde do solo, qualidade ambiental e saúde humana (MONTGOMERY; BIKLÉ, 2020). O agrotóxico, como o biovírus da Covid-19, é invisível, transterritorial e transtemporal, viaja livremente pelos alimentos, pelo solo, água e ar. Por isso, de- ve-se falar de agrotóxicos em meio a maior pandemia sanitária global, quando go-

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