Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Agrotóxicos e Covid-19: uma reflexão necessária sobre a política brasileira de flexibilização da legislação... 123 Com a justificativa de aumentar a produção agroalimentar para uma po- pulação mundial que deverá ter um acréscimo de mais de dois bilhões de pessoas nos próximos trinta anos, o ser humano se introduz e adentra cada vez mais nas matas primárias que restam para extrair recursos e produzir alimentos. Também é cada vez mais frequente a compra de terras agrícolas de pequenos proprietários que desenvolvem práticas de agricultura sustentável por grandes empresas repre- sentativas da agricultura industrial. O vírus, assim como o agrotóxico, se alastra pelo globo terrestre e desafia a ciência impondo a todos uma reflexão. 2. AGROTÓXICOS: UM DESASTRE SILENCIOSO Com a obra “Primavera Silenciosa”, Rachel Carson causou enorme impac- to no ano de 1962 pela denúncia contundente de que o ser humano e todos os ecossistemas estavam sendo submetidos a um lento envenenamento pelo uso de pesticidas químicos e misteriosas doenças que atacavam os animais e os fazendei- ros que adoeciam e morriam. Carson (2010, p. 21) inicia seu relato falando de ci- dades espalhadas em diversas partes do mundo onde pairava a sombra da morte e uma estranha quietude que se traduzia em uma primavera sem vozes e um silêncio de tudo o que fosse vivo. Sua obra é uma tentativa de explicar o silêncio das vozes da primavera em numerosas cidades dos Estados Unidos a partir do que considera ser “o mais alarmante de todos os ataques do ser humano ao meio ambiente” com a contaminação “do ar, do solo, dos rios e dos mares com materiais perigosos e até mesmo letais” (CARSON, 2020, p. 22). O crescimento do uso de agrotóxicos e seu mau uso têm contribuído para o envenenamento do meio ambiente. A crença de que eram seguros para os seres humanos e para os ecossistemas mostrou ao longo dos anos que podem desenvol- ver resultados desastrosos. Usados para controle de insetos, roedores e vegetação indesejada, os pesticidas entram no solo “sob a suposição de que o solo iria tolerar qualquer quantidade de agressão, na forma de introdução de veneno, sem revidar” (CARSON, 2020, p. 60). O solo, as águas, os animais e qualquer ser vivo sofrem intensamente os efeitos dos agrotóxicos ao acumularem quantidades fantásticas em seus organismos. A vida animal é sustentada pela água, pelo solo e pelo manto verde da Terra que é formado pela vegetação que, por sua vez, “é parte da teia da vida em que existem relações íntimas e essenciais entre as plantas e a Terra, entre as plantas e outras plantas, entre as plantas e os animais”. Com vendas ascenden- tes, os pesticidas proliferam em nome dos “prósperos negócios da erradicação de ervas daninhas”, do progresso e do retorno financeiro do agronegócio calcado na produção de alimentos com uso de pesticidas. Só que essa erradicação cobra um preço alto e a natureza tem dado a sua resposta, pois que todo “tecido cuidadosa- mente tramado da vida foi dilacerado” (CARSON, 2010, p. 67). Faz 58 anos que Carson escreveu “Primavera Silenciosa” e, de lá para cá, os agrotóxicos cresceram de forma exponencial em todo o planeta Terra. Carson fez uma verdadeira revolução ao denunciar o uso exagerado de agrotóxicos e os efeitos à saúde humana e a todos os ecossistemas. Entretanto, o poder das grandes multi-

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