Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Tecnologias de biorremediação e fitorremediação aplicadas à remoção de pesticidas e microplásticos... 103 ainda que tanto o glifosato como o AMPA podem ser transportados para perfis mais profundos dos solos por vermes e minhocas dos solos, e que estes são agentes de disseminação destes poluentes nos sistemas agrícolas. A interação entre MPs e pes- ticidas pode interferir na biodisponibilidade de vários elementos essenciais à biota do solo. LIU et al. (2019, p. 9) estudaram os efeitos interativos entre microplásticos (pó de polipropileno homopolímero: 7% e 28% w/w) e glifosato (3.6 e 7.2 kg ha - 1 ) nas dinâmicas da matéria orgânica dissolvida em solos do tipo Loesse, na China. Observaram que a interação de glifosato com os MPs apresenta comportamentos muito diferenciados, conforme varia o conteúdo de MPs. A baixos conteúdos de MPs, a interação afeta negativamente as dinâmicas de carbono e fósforo orgânicos dissolvidos no solo, conduzindo à perda de C e P biodisponíveis. Porém, na presen- ça de conteúdos elevados de MPs no solo, a interação aumenta a atividade enzimá- tica e os conteúdos de C e P orgânicos, de materiais de baixo peso molecular e de ácidos fúlvicos, mas afeta negativamente os conteúdos de N orgânico dissolvidos no meio. Os autores concluem que, em geral, a interação entre glifosato e MPs conduz a mais efeitos positivos que negativos nos parâmetros estudados. Porém, deveremos ter em mente que outros estudos apontam para alteração da composição da comu- nidade microbiana e da atividade de enzimas no solo, na presença de MPs e, que, neste meio, as condições são complexas (HUANG et al., 2019, p. 8). Logo, ocor- rendo interferência nas biodisponibilidades de elementos essenciais e nas dinâmicas da matéria orgânica do solo, é expectável que várias comunidades microbianas e ve- getais, assim como as respectivas funções possam também sofrer modificações (QI et al. , 2018; p.1054), devendo-se, por isso, conduzir mais estudos para aprofundar estas questões. As interações de pesticidas e MPs podem ocorrer também no sentido in- verso, isto é, os pesticidas podem degradar MPs e agir ainda sobre a biodisponibi- lidade e mobilidade de elementos inorgânicos nos solos. De fato, metais pesados são frequentemente adicionados aos produtos plásticos durante o seu processo produtivo, sendo comum que também estejam presentes com os MPs nos solos, como contaminantes. Li et al. (2020, p. 15) estudaram os efeitos do pesticida pro- tioconazol na degradação de MPs derivados de dois tipos de filmes plásticos: 1) filme de polietileno; e 2) filme biodegradável de poli (butileno adipato-co-teref- talato), ou PBAT. Estes autores descobriram que o pesticida promoveu a degrada- ção de MPs de PBAT de forma mais rápida que MPs de poliestireno, facilitou a adsorção de Cu, não apresentou um efeito significativo em relação a Sn, e inibiu a adsorção de Cr, As, Pb e Ba pelos MPs. Estes resultados são importantes na ava- liação dos riscos ecológicos causados pela poluição de MPs provenientes de filmes plásticos ( mulching ), quando combinados com metais pesados, assim como em projetos de restauração e remediação desses solos. Assim, fica patente que ocorrem diferentes interações entre MPs/NPs e os pesticidas aplicados aos solos, que tal interação coloca diversos riscos nos sistemas agrícolas, cadeias alimentares e na vida humana, e ainda que é urgente adotar me- didas de controle e remediação destes solos co-contaminados. No ponto seguinte, apresentamos o potencial que as tecnologias de biorremediação e fitorremediação apresentam no sentido de promover uma remediação efetiva desses ecossistemas

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