Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias
Bruno Miguel Garcia Barbosa, Vanusca Dalosto Jahno e Ana Luísa Almaça da Cruz Fernando 102 dade adicionada de pesticidas, num processo dependente da hidrofobicidade dos materiais e da solubilidade hídrica. De fato, a maior percentagem de pesticidas organoclorados adsorvidos nos MPs correspondeu à classe do DDT (52-58%), seguida da classe dos heptacloros (23%), do endosulfan (6-15%), do endrin (4- 12%) e da classe dos isômeros de hexaclorociclohexano (HCHs = 2-8%). Os au- tores referem que fatores como a área superficial dos plásticos, o tempo de exposi- ção aos contaminantes, as taxas de intemperismo e degradação dos plásticos, bem como as condições edafoclimáticas influenciam todo o processo de adsorção, e concluem que as partículas microplásticas de PET podem adsorver pesticidas or- ganoclorados, transportá-los para os cursos hídricos, favorecendo a bioacumula- ção em diversos grupos tróficos nas cadeias alimentares terrestres e aquáticas. Uma vez nos cursos hídricos, os MPs tendem a amplificar os efeitos tóxicos colocados pelos pesticidas (caso do glifosato), pelo que tais interações deverão ser aprofunda- das também nesses meios (ZOCCHI; SOMMARUGA, 2019, p. 1). Fang et al. (2019, p. 1124) testaram os comportamentos de adsorção de três fungicidas triazóis [hexaconazole (HEX), N miclobutanil (MYC), e N tria- dimenol (TRI)], comumente usados no controle de doenças em cereais, frutos e vegetais, em MPs (2, 10, 100 µm) de poliestireno. Os autores mostraram que MPs de poliestireno podem adsorver e dessorver todos os fungicidas testados, sendo que o HEX demonstrou uma hidrofobicidade mais forte e uma capacida- de de adsorção e dessorção superiores (esses resultados ocorreram na ordem: HE- X>MYC>TRI). O processo de adsorção foi governado por interações hidrofóbicas e eletrostáticas, e fatores como o tamanho das partículas plásticas (as de dimen- sões mais reduzidas), a mudança de pH (em solução), e a força iónica afetaram de forma mais proeminente as capacidades de adsorção dos fungicidas pelos MPs. Assim, este estudo aponta para o fato de que MPs atuam como fonte e sumidouro de fungicidas, em ambientes aquáticos, embora isso ocorra muito provavelmente na solução do solo. De fato, outros estudos apontam nesse sentido. Hüffer et al. (2019, p. 246) também se referem à influência que MPs (<250 μm) de polietileno podem exercer no transporte de poluentes orgânicos hidrofóbicos, como a atrazi- na (herbicida) e o ácido 4-(2,4-diclorofenoxi) butírico (herbicida), em solos com condições aquosas distintas. Os resultados desta pesquisa indicaram que a presen- ça de MPs nos solos aumentou a mobilidade dos herbicidas (e os riscos de conta- minação de águas subterrâneas) e são agentes ativos na redução da capacidade de sorção dos solos naturais. Yang et al. (2018, p. 16) pesquisaram a influência da adição de MPs no de- caimento de glifosato e nas atividades microbianas nos solos. Os efeitos de metabó- litos de glifosato, formados nos solos, após aplicação dos pesticidas, como o ácido aminometilfosfónico (AMPA), também foram estudados. Estes autores verificaram que MPs de tamanhos superiores se convertem em MPs de tamanho mais diminu- to em tão somente 30 dias de experiência, afetando a dinâmica de enzimas como a β -glucosidase, urease e fosfatase, alterando a respiração (microbiana) do solo, facili- tando a lixiviação e entrada destes compostos nas águas subterrâneas. O metabólito AMPA permanece no solo mais tempo que o glifosato, colocando mais riscos para os micro-organismos do solo que o primeiro. Yang et al. (2020, p. 831) mostraram
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz