Futuro com ou sem agrotóxicos: impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Bruno Miguel Garcia Barbosa, Vanusca Dalosto Jahno e Ana Luísa Almaça da Cruz Fernando 100 sas interações (BRENNECKE et al. , 2016). É altamente provável que os MPs e NPs contribuam para o incremento na persistência e toxicidade colocada por al- guns pesticidas (LIU et al. , 2019, p. 9; YANG et al ., 2019, p. 829), informações que deverão ser esclarecidas e consideradas, aquando da fase de implementação de projetos de restauração e remediação de solos contaminados com esses poluentes. Acrescente-se ainda que, alguns dos efeitos tóxicos atribuídos exclusivamente aos pesticidas, e à presença de metais pesados (componentes nas suas formulações), possam, na realidade, dever-se à presença e interação desses contaminantes com resíduos plásticos particulados. Assim, o modo como MPs e pesticidas interagem nos solos precisa ser estudado em maior detalhe, de forma a promover a eficiência dos protocolos de remediação. Neste sentido, o presente trabalho: 1) fornece uma revisão das principais descobertas relativas às interações existentes entre pesticidas e microplásticos nos solos agrícolas; e, 2) apresenta um quadro das principais tec- nologias físico-químicas e biológicas hoje disponíveis, que poderão ser aplicadas nesses contextos de contaminação, a fim de promover a restauração e remediação de ecossistemas funcionais em solos hoje degradados, inutilizados e poluídos. 1. INTERAÇÃO DE PESTICIDAS COM MICROPLÁSTICOS NO SOLO MPs e NPs alcançam ecossistemas terrestres e interagem com os respetivos fatores biológicos, físicos e químicos. Quando em interação com os fatores bio- lógicos dos solos, causam perturbações e degeneração ao nível hormonal, assim como no crescimento, desenvolvimento e reprodução em insectos (OLIVEIRA et al. , 2019, p. 318; RILLING; ZIERSCH; HEMPEL, 2017, p. 1) e plantas (QI et al., 2018, p. 1054; LIAN et al. , 2020, p. 17), alteram a diversidade e riqueza de comunidades bacterianas (FEI et al. , 2020, p. 4) e de fungos (LEHMANN et al. , 2020, p. 5), acarretando, por isso, diversas consequências para os ecossis- temas. Para além de serem transferidos na cadeia alimentar, MPs e NPs servem como novo habitat para bactérias e fungos (HUANG et al. , 2019, p. 3), sendo, em alguns casos, desintegrados em partículas menores e transportados para os perfis inferiores no solo por micro-organismos e minhocas (HUERTA LWANGA et al. , 2017, p. 6), mesmo utilizados como fontes de carbono e energia por dife- rentes protistas do solo, bactérias e fungos (SÁNCHEZ, 2019, p. 7). Esta é uma particularidade que exploraremos em maior detalhe no próximo ponto, dado que plantas, fungos e micro-organismos do solo podem ser utilizados na degradação de MPs, assumindo um papel importante na remediação biológica destes meios contaminados. Em outros casos, acumulam nos solos e provocam consequências negativas ao nível físico e químico. Do ponto de vista físico, MPs e NPs indu- zem a desagregação das partículas do solo, afetam a densidade aparente do solo e a condutividade hidráulica (ZHANG; ZHANG; LI, 2019, p. 5), alteram as dinâ- micas relacionadas às quantidades hídricas em solução e nutrientes do solo, bem como as relações C/N e lignina/N (OLIVEIRA et al. , 2019, p. 319), contribuin- do, assim, para a intensificação dos processos de desertificação e erosão mediante um aumento da dessecação das rachaduras no solo e incremento nas taxas de eva-

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