História e políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas
66 Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos e o manifesto dos pioneiros da educação nova:... ensino era totalmente fragmentado, sem articulação entre os diversos ensinamentos e deles com o mundo. Outro aspecto destacado pelo Manifesto de 1932 diz respeito à questão da unidade versus uniformidade da educação nacional. Era ne- cessário um sistema de organização educacional que gerasse a unidade, porém não a uniformidade educativa. Para estes educadores, tal unida- de educativa deveria contar com a multiplicidade presente quando se comparam vários estados brasileiros, a fim de que a educação se tornasse mais relevante e proveitosa para todos. Sobre este aspecto do documen- to, os autores Nelson e Claudino Piletti (1997), destacam: A educação deve ser “uma só”, com vários graus articulados para atender às diversas fases do crescimento humano. Mas, a unidade não quer dizer uniformidade; antes, pressupõe mul- tiplicidade. Daí, embora única sobre as bases e princípios es- tabelecidos pelo Governo Federal, a escola deve adaptar-se às características regionais. (p. 177). A Educação deveria ser vista como um organismo, em profunda relação com a vida prática e motivadora do progresso. Deveria receber prioridade nos planos do Estado, principalmente seus primeiros anos, que representam o início da formação dos indivíduos. O planejamento da educação deveria contar com o apoio da pedagogia, bem como da filosofia e outras ciências. Os pioneiros defendiam uma educação fun- cional, visando ao mesmo tempo o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. Dermeval Saviani (2008) destaca dois aspectos importantes so- bre o documento. Segundo ele: Dois aspectos marcam a estrutura do texto do “Manifesto”: é, por um lado, um documento doutrinário e, por outro, um documento de política educacional. Como documento dou- trinário, o texto declara-se filiado à Escola Nova. De fato, o conjunto do trabalho é atravessado implícita ou explicitamen- te pela perspectiva escolanovista. Implicitamente, na medida em que se insere no movimento de renovação e que se propõe a tarefa de reconstrução educacional. Explicitamente, quando se empenha em enunciar as bases, princípios e procedimentos próprios da Escola Nova, opondo-se à escola tradicional. No entanto, não se trata de um texto homogêneo, sendo possível, mesmo, considerá-lo um tanto contraditório. Isso é explicável seja pelo caráter de manifesto que procura angariar adeptos junto à opinião pública, o que geralmente implica concessões em detrimento da pureza doutrinária; seja pelo seu redator, Fernando de Azevedo, cuja adesão à Escola Nova, como já se assinalou, foi marcada por certa heterodoxia ou ecletismo;
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