História e políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas
56 Políticas públicas nacionais em educação entre 1930-1945: o caso de Rio Grande-RS... novembro de 1939, direto ao prefeito, onde solicitava a abertura de uma sindicância. Percebo que esta atitude da professora demonstra o controle exercido pelo prefeito nas questões educacionais, bem como também, mais uma vez, o pouco poder da Inspetoria. Caso a Inspetoria tives- se mais poder decisório, a professora teria dirigido a carta ao inspetor e não diretamente ao prefeito, como também fizeram os professores estrangeiros. Na segunda sindicância, foram ouvidas nove pessoas da comu- nidade, incluindo a própria professora. Uma pergunta feita aos depoen- tes chama atenção, pois objetivava saber qual o conceito moral que eles possuíam sobre a professora. Todos os ouvidos afirmam nada saber, e citam frases como essa: “trata-se de uma pessoa honesta e de conduta exemplar”. Esclarece o inspetor que mesmo com as informações favoráveis colhidas (depoimentos dos analfabetos), nem todos os moradores da comunidade estavam satisfeitos com a professora. Afirmando que fez poucas inspeções na escola, o inspetor diz que não pode afirmar com absoluta segurança a atuação da professora. E tendo em vista os depoi- mentos, afirma o inspetor que a professora está cercada de antipatia na comunidade, o que prejudicava o funcionamento da escola: Portanto, por conveniência da instrução, embora deixando de parte o interesse pessoal da professora, o que não entra em cogitação, de vez que entre o jogo do alto interesse da admi- nistração e da coletividade, somos de parecer, s.m.j., que a Es- cola Unitária XII deve ser dirigida por outra regente para que, com o resultado da experiência, possamos fazer juízo seguro da propriedade da medida. A professora deveria sair da escola, submetendo-se as determi- nações da Inspetoria que defendia um interesse coletivo, que era a busca da qualidade da educação, determinada pelas leis e decretos. De acor- do com Ferreira e Fortunato (2006, p. 6) a inspeção passou a ser (no Estado Novo) a forma de controle da “qualidade” então pretendida na formação que se esperava. No caso da Escola n° XII a questão fundamental entendida pela Inspetoria, era o funcionamento da escola. Para tanto a individualidade deveria ser suprimida e o interesse coletivo priorizado. Outra questão que está de certa forma implícita nesta sindicância é o disciplinamento
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