História e políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas
229 Aline Aparecida Martini Alves Portanto, o bem-estar e a felicidade de todo Estado ou Reino exigem que os conhecimentos da classe pobre trabalhadora se limitem à esfera de suas ocupações e que nunca se estendam (no que se refere às coisas visíveis) para além do que se re- laciona com a sua profissão. Quanto mais conhecimento do mundo e das coisas alheias ao seu trabalho ou emprego tenha um pastor, um lavrador ou qualquer outro camponês, tanto mais difícil lhe será suportar com alegria e satisfação as fadigas e as dificuldades de seu ofício. (MANDEVILLE, apud FER- RARO, 2009, p. 312). As ideias de Mandeville evidenciam a necessidade que a classe política tem de criar estratégias de formação educacional que contri- buam para a manutenção da ordem, no sentido de oportunizar a for- mação para o trabalho, numa concepção rasa, em que os trabalhadores não tenham acesso aos conhecimentos historicamente produzidos pelo homem, sem acesso à cultura, arte e lazer, tornando-o passivo, subser- viente com o modelo de desenvolvimento imposto, neste caso, pelo capital. É possível perceber semelhanças entre o pensamento de Man- deville e as declarações do Ministro da Educação do Governo Jair Bol- sonaro (2019-2022). Em 25 de abril de 2019, Abraham Weintraub afirma: “Então, o que a gente tem que ensinar para as crianças e para os jovens? Primeiro habilidades: poder ler, escrever e fazer conta 9 ”. O receio dos governantes alinhados como o desejo de ampliação do capital para poucos, acaba fomentando políticas educacionais que perpetuam a desigualdade, no sentido de inviabilizar a instrumentalização de crian- ças e jovens a uma formação integral que lhes subsidie a busca de um futuro melhor. Outro indício do interesse governamental em limitar as possibi- lidades dos filhos dos pobres ao acesso ao ensino superior, por exemplo, é a inclusão da área do conhecimento de formação técnica e profissional (Art. 36, inciso V) trazida pela Reforma do Ensino Médio, que revela o desejo de uma parcela da classe política em contribuir para a formação de mão de obra de baixo custo para o mercado. Afinal, a manutenção do poder tem relação direta com a formação que está sendo propiciada ao povo. Inclusive, ao implementar reformas 10 o que se quer, na verda- 9 Disponível em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/ministro-da-dica-para-enem-ques toes-ideologicas-muito-polemicas-nao-devem-acontecer-esse-ano-23623156> . Acesso em: 20 jun. 2019. 10 Sobre os sentidos de reformar a educação, ver: MESZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2008.
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