História e políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas
206 A história de um pesquisador em formação, seu lócus de investigação e seus estudos... tricentenário de nascimento de Jean-Jacques Rousseau e os duzentos e cinquenta anos de publicação de seus dois escritos mais célebres, Emílio e O Contrato Social . Cabe dizer ainda que em nossa análise ficou flagrante a atitu- de crítica de Bomfim aos poderes estabelecidos em nosso país. Seu ra- cionalismo moral se inscrevia em uma linha política realista e prática. Embora ação política e ação pedagógica não sejam atos sinônimos, foi possível verificar que para Manoel Bomfim existia uma afinidade pro- funda entre as duas. Sociedade e educação estavam interligadas para o sergipano. Para este, a educação era o motor para todas as transforma- ções necessárias ao meio social. Destarte, apresentava-se implícita na teoria formacional bomfimniana um conjunto de ideias que buscava desenvolver tanto um novo homem quanto uma nova sociedade. Contrariando as teorias cientificistas de seu tempo, Bomfim não entendia as desigualdades sociais como naturais e sim como um mecanismo das elites para legitimar a soberania destes sob as camadas mais humildes da população. Contudo, Bomfim supunha que o confli- to existente entre parasitas e parasitados poderia ser superado por meio da ação político-pedagógica, no caso, que a educação e a política pode- riam desenvolver em ambos as virtudes necessárias ao convívio social e a supressão das desigualdades. Como se vê, a educação constituía, para Bomfim, um processo de integração de perspectivas, fator que distingue o sergipano como um pensador da democracia popular. Por fim, destacamos que as desigualdades que Manoel Bom- fim pretendia combater não eram somente culturais; eram, sobretu- do, econômicas, éticas e políticas. De sobremaneira, Manoel Bomfim percebia a educação como uma política social viável para a reversão de nossas mazelas, em especial, a polarização entre riqueza e pobreza no Brasil. Seu contexto apontava caminhos dialógicos, ainda que seus contemporâneos não percebessem a situação da mesma forma. Havia na proposição bomfimninana, sem sombra de dúvida, uma contradição pecaminosa do ponto de vista dos interesses de grande parte das elites. E infelizmente, no tempo presente, parece que as coisas não mudaram tanto assim. Este texto nasce em um contexto em que o autor pretende voltar à vida acadêmica, mesmo ciente dos males atuais que rondam a política educacional brasileira. São tempos de pós-verdade: um tempo onde o Ministério da Educação (MEC) publica um edital para compra de livros didáticos onde se suprimi o compromisso com minorias, permitindo ainda a ausência de referências bibliográficas; um
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