História e políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

199 Dênis Wagner Machado vestigações sobre as processualidades educativas do período em conso- nância (ou não) com a política educacional praticada. A relevância de se verificar com mais apuro esse material consiste que a crítica habitual de Bomfim tivera evidente sentimento antilusitano e forte crítica ao imperialismo estadunidense. Evidenciava que os retrocessos sociais, po- líticos e econômicos da região centro-sul continental não se produziam simplesmente pela suposta incapacidade das massas ao progresso, nem por uma presumível inferioridade racial, mas sim pela qualidade das condições de desenvolvimento do povo e das violências pelas quais eles haviam padecido. Assim, vai atribuir às elites intelectuais e políticas, a responsabilidade pelo atraso do continente e vai dizer que a explora- ção e a dominação colonial, o parasitismo ibérico, conceito cunhado no livro América Latina , seria o conjunto de fatores responsáveis pelos nossos males de origem . Essa visão alcança nossos dias e também novos educadores, que se apercebem da continuidade do dilema: [...] A história brasileira é, sobretudo, uma sucessão de proces- sos de exclusão e opressão, a começar pelo quase extermínio dos povos indígenas, pela escravidão do negro e pela sistemá- tica apropriação do bem comum por parcela minoritária da sociedade, deixando as maiorias à margem [...]. (STRECK, 2006, p. 60). Todavia, cerca de vinte e sete anos antes desta reflexão, Manoel Bomfim e suas ideias recém emergiam do limbo em que estavam confi- nadas. Tendo por palco a cidade do Rio de Janeiro no contexto político do ano de 1979, duas publicações acerca dele chegavam ao grande pú- blico. De um lado, o livro de Aluizio Alves Filho: Pensamento Político no Brasil – Manoel Bomfim: um ensaísta esquecido (Editora Achiamé). De outro, o ensaio acadêmico Uma teoria biológica da mais valia? Escrito por dois mestrandos de Literatura Brasileira da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), à época, ambos bolsistas Ca- pes, Roberto Ventura e Flora Sussekind. Saudado até hoje por vários pesquisadores como um dos melhores estudos acerca das concepções histórico-políticas de Manoel Bomfim, o ensaio foi difundido ampla- mente a partir de 1984, como capítulo inicial da obra História e Depen- dência: cultura e sociedade em Manoel Bomfim (Editora Moderna), onde se sucede uma associação de ideias entre Manoel Bomfim, Karl Marx e Friedrich Engels. Conforme mencionados, a metáfora do parasitismo ibérico de Bomfim, se aplicada ao estudo das classes sociais e das relações entre na-

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