História e políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

198 A história de um pesquisador em formação, seu lócus de investigação e seus estudos... malismos [...]” (STRECK, 2004, p. 15). Ele percebeu que a questão em torno da mestiçagem era um problema nacional, mas também latino-a- mericano. Por conta disso, fez críticas radicais ao racismo. Gostaria de assinalar que, para mim, a instrução popular apre- goada por Manoel Bomfim não era mera transmissão de informações, consistia muito mais na divulgação de uma educação conscientizadora, uma educação voltada para uma tomada de consciência dos aspectos condicionantes que formaram a nação brasileira e a própria América Latina. Aspectos que, caso superados, poderiam levar tanto o povo bra- sileiro quanto latino a um novo modelo de democracia. De forma ru- dimentar, concepções muito próximas daquelas que anos depois vamos encontrar eco nas obras e no pensamento de Paulo Freire sobre educa- ção libertadora. Manoel Bomfim também se dedicou à produção de livros didá- ticos. Em Através do Brasil (1910) , livro literário escrito a quatro mãos por ele e Olavo Bilac, apresenta “[...] como grande parte da literatura infantil produzida na época, no país e no exterior, não visava apenas o aprendizado formal, mas a formação e o reforço de uma consciência nacional [...]”. (AGUIAR, 2000, p. 417). Entretanto, este não foi o primeiro trabalho da dupla, uma década antes já haviam escrito o Livro de composição para o curso complementar das escolas primarias (1899) e o Livro de Leitura para o curso complementar das escolas primarias (1901). É sabido que estes livros foram posteriormente adotados nos cursos complementares das escolas primárias do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Minas Gerais, entre outras cidades. Além de Diretor de Instrução Pública do Instituto de Educa- ção do Rio de Janeiro (IERJ), hoje Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ), sob a administração de Pereira Passos, Manoel Bomfim também foi professor da Escola Normal onde utilizava ma- nuais de sua própria autoria, como Lições de Pedagogia (1915) e Noções de Psychologia (1916), na formação de professoras que, por sua vez, mais tarde na escola primária poderiam contar com um grande número de livros de leitura escritos pelo antigo mestre, como por exemplo, Primei- ras Saudades (1920); Creanças e Homens (1922); Lições e leituras para o 1º ano (1922) e Lições e leituras - livro do mestre (1922). Os livros didáticos ou sobre educação, criados e usados por Ma- noel Bomfim, revelam propostas de formação de dimensões sócio-po- líticas ainda não suficientemente investigadas, ou seja, ainda podem gerar novas compreensões e problemáticas, além de suscitar novas in-

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