História e políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

197 Dênis Wagner Machado [...] sem a instrução da massa popular, sem o seu realçamento, não é só a riqueza que nos faltará – é a própria qualidade de gentes entre as gentes modernas. Pouco importa o que está inscrito nas Constituições, que as camadas políticas vão de- positando nos armários oficiais. Como estamos, não somos nem nações, nem repúblicas, nem democracias. A democracia moderna é um produto do progresso; e nós somos, ainda, uma presa do passado, recalcitrante em tradições e preconceitos, que não soubemos vencer ainda. Querer um regime moderno, com as almas cristalizadas nos costumes de três séculos atrás, não é uma utopia – é uma monstruosidade. Proclamar demo- cracia e liberdade, e manter e defender as condições sociais e políticas das eras de absolutismo, é mais que insensato – é funesto, mais funesto que o próprio absolutismo formal. Este é criminoso, mas é pelo menos lógico; o crime pode ser lógico sem deixar de ser crime; o regime de democracia sem povo é absurdo [...]. (BOMFIM, 2005, p. 362). Pode-se dizer que Manoel Bomfim e seus escritos, assim como Paulo Freire e suas obras, eram dotados de uma “[...] ira saudável contra a opressão e os sofrimentos desnecessários [...]” (GIROUX, 2010, p. 114). A crítica de Bomfim ao positivismo, por exemplo, pode ser sinte- tizada em três questões que visam explicar as causas da desfiguração da história brasileira e latino-americana: a negação dos interesses por parte dos historiadores; a perversão das fontes; e a redução da história à enun- ciação de fatos e a listagem de nomes. Para Manoel Bomfim, o historia- dor apropriado ao ofício seria aquele habilitado a valorizar a memória brasileira e latino-americana, sendo ainda portador de longa erudição, senso crítico, lógica e competência para construir uma história aparta- da de preconceitos. A história passaria a ter uma finalidade específica: apontar circunstâncias em que os indivíduos poderiam influir sobre a marcha dos acontecimentos. Sua crítica ao evolucionismo não era contra Charles Darwin, para Bomfim, o britânico falava em luta pela vida, do esforço para man- tê-la e não como foi colocada por alguns evolucionistas de época, de um conflito eterno, onde organismos se digladiavam todos contra to- dos. Como já ressaltou o professor Celso Uemori (2008, p. 333) “[...] essa visão foi útil para a legitimação do capitalismo, do individualismo [...], das iniciativas de controle populacional, da depuração eugênica [...] e da tentativa de controlar as reivindicações dos trabalhadores [...]”. Entendemos que Manoel Bomfim, assim como Jean-Jacques Rousseau em seus dias de crítica, “[...] denuncia uma sociedade que legitima as desigualdades e onde a vida em comum é regida por convenções e for-

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