História e políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas
177 Graziela Rinaldi da Rosa e Venine Oliveira dos Santos “Pra mim ser uma jovem quilombola, não é bom, nem é ruim. Tem vantagens, mas tem desafios. Desafios assim para mim, jovem, guria e negra: escola, trabalho e convivência... escola é racismo, é bullying, tem muita coisa. Porque aqui é onde tem muito pomerano, alemão... então, não tem... eles não respei- tam a gente ser como a gente é… eles não aceitam.” (Geiza, Coxilha Negra). Djamila Ribeiro (2018, p. 56) explica que “estereótipos são ge- neralizações impostas a grupos sociais específicos, impõe-se a criação de papeis de gênero como forma de manutenção de poder, negando-se humanidade às mulheres”. Os desafios não compreendem só as jovens. Além do preconceito, há a questão do acesso e da permanência, que é um entrave para a conclusão em cursos profissionalizantes: “Eu gostaria de voltar a estudar, mas aqui é muito difícil. Até em São Lourenço eu podia estudar de noite, mas a maioria dos ônibus só vem até boqueirão, ai na Boa Vista diz que não tem condições de colocar professores, aí eu não posso continuar estudando. Tento fazer uns cursos pra eu não ficar atrasada, agora vem internet, tablet, celular a gente tem que aprender um pouco, se não a gente não sabe mexer. Eu tava começando ali no computador, ai meio curso não dá muita coisa... queria que voltasse pra pelo menos terminar de fazer os cursos. Queria que voltasse a fazer o curso aqui pra eu terminar... Quando a gente ficar mais velha... é mais difícil trabalhar na colônia do que na cidade, aí se tu tem alguns diplomas... se eu tivesse terminado o curso de computação eu podia trabalhar na far- mácia, ai eu teria curso.” (Miriam Correia, Coxilha Negra). Mesmo com tantos problemas que enfrentam, essas mulheres consideram que suas vidas estão bem melhores do que em anos ante- riores, e lembram, em diferentes narrativas, os sacrifícios que passavam com seus pais, ainda quando crianças. “Foi assim que a gente se criou com os pais da gente, a gente não se criou nos estudos porque a gente ia um dia e no outro dia não pra ajudar os pais em cada que nós era pobre mesmo não tinha condições. De uns anos pra cá que a gente conseguiu luz elétrica, 2003. Foi melhorando nossa vida. Não tá bem
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