História e políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

176 Histórias, memórias e narrativas de vidas de mulheres dos quilombos Outros aspectos que se evidenciam nos relatos das vivências das mulheres Quilombolas, é a as questões que condizem a Educação. “Tem coisas no colégio que nem lembram dos quilombolas, mesmo só na consciência negra, falam muito pouco, falam mais é dos escravos, sempre tentam relembrar a raça negra num álbum diferente como escravo, escravidão... porque lá num tempo tu era escravo de alguém, pra as pessoas podiam lembrar mais disso tem gente que lembrar bastante, tem quem não lembra.” (Emile, Coxilha Negra). Arroyo, Caldart e Molina (2004, p. 11) na apresentação do livro Por uma Educação do Campo , nos explicam que “a Educação do Campo nasce de outro olhar sobre o campo” e que essa educação interroga-nos: [...] porque nem sequer os governos democráticos, nem sequer o movimento educacional progressista conseguira colocar em seus horizontes o direito dos camponeses à Educação? O olhar negativo, preconceituoso, do campo e seu lugar no modelo de desenvolvimento seriam responsáveis? A agricultura campone- sa vista como sinal de atraso, inferioridade, como um modo de produção, de vida e de cultura em extinção? Como quebrar o fetiche que coloca o povo do campo com algo à parte? Apesar da Lei 10.639/03 que regulamenta o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, ainda nos deparamos com o distan- ciamento dessa com as práticas dentro da escola. Muitas vezes, essas diretrizes não costumam ser rememoradas no cotidiano das estudantes quilombolas, vindo a ser, somente na Semana da Consciência Negra. Ainda é necessário um árduo trabalho de conscientização da branquitu- te, como podemos observar no relato a seguir: “Eu já ouvi boatos... “ah, como teu cabelo é feio”... às vezes tu fica quieta, tenta não responder, às vezes tu não te segura, já respondi pra várias pessoas, as pessoas tentam falar “tua pele é escura, tua pele é isso”, as pessoas não têm consciência, tem preconceito!” (Emile, Rincão das Almas, 14 anos) . Outra vivência, que nos traz uma narrativa parecida nos de- nota a não-aceitação dos demais povos que dividem espaços com os quilombolas:

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