História e políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

169 Graziela Rinaldi da Rosa e Venine Oliveira dos Santos entre coxilhas e serras, em terras onde a vegetação era abundante. A mobilidade foi e segue sendo uma característica. Hoje, as mulheres que saem dos quilombos para a cidade vão em busca de trabalho e estudo, e percebe-se que essas que saem sonham em retornar, outras retornam na idade adulta (GOMES, 2015, p. 16). É possível identificar essas histó- rias conforme conta a Quilombola entrevistada: “Depois dos meus 14 anos eu fui viver em São Paulo, vivi com uma família japonesa, voltei com 19 anos. Aí eu trabalhei na firma Lange, trabalhei 12 anos, depois meus pais ficaram doentes eu vim pra cá, então não tenho muito que contar da- qui, eu moro aqui, mas eu não passei o tempo de adolescen- te aquela coisa toda aqui. Eu sai, minha referência de volta, aqui é minha casa, eu fui trabalhar no Lange, eu tinha minha casa, sempre tive ponto de referência pra voltar, meu filho pode revirar o mundo, mas sempre que ele quiser tem seu ponto de referência que é aqui e aqui eu não abro mão, cada um tem seu pedacinho, cada um cuida do seu pátio, tem sua horta, cada um cuida do seu. Todo mundo trabalha, cada um tem seu trabalho, cada um tem seu pátio, cada um respeita o espaço do outro, a gente jamais... eu não saio daqui... só pra traba- lhar, trabalhar e voltar” (Vera Silveira, Rincão das Almas) . Sabemos que as casas antigas eram feitas de palha e cobertas de capim santa fé, que podiam ser facilmente abandonados conforme se aproximassem as tropas repressoras. Encontramos no Quilombo Rin- cão das Almas uma fotografia que retrata essa história. Hoje, a partir de um trabalho desenvolvido em parceria com o Movimento de Consciên- cia Negra e a Universidade Federal do Rio Grande, o Quilombo das Nascentes está construindo uma réplica dessas moradias 9 . Como destaca Georgina Nunes (2016, p. 170): Nos quilombos ainda é forte a presença das moradias cons- truídas com barro e cobertas com palhas, santa-fé, de tijolos de torrão feitos em casa, e, também o uso de instrumentos de trabalhos rudimentares como o monjolo, a roda de farinha, as peneiras, os tipitis, os balaios, os arados de tração animal, as carroças, e majoritariamente, o pilão. Sabe-se que muitos 9 Trata-se de um projeto de pesquisa, coordenado pelo professor Marlon Borges Pestana (Universidade Federal do Rio Grande/FURG) e está relacionado à Educação Patrimonial. A construção é um assentamento de ocutá chamado Mocambo, estilo Ganga Zumba, uma réplica em pau a pique (barro do século XIX).

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