85 Jonas Tarcísio Reis que o maior desconforto veio, justamente, por conta da implementação da AE, que deslocou os professores para uma zona de instabilidade, de incertezas quanto aos motivos, aos objetivos e às fórmulas de fazer avaliação no Ensino Médio. O movimento de resistência veio do processo natural dos docentes em defender o seu ponto de vista pedagógico no sentido de que se há o ensino e ele necessita ser avaliado, precisa-se medir o que os alunos aprenderam. Então, muitas escolas contribuíram com a resistência no sentido de burlar a lógica de uma avaliação mais qualitativa conferindo numerações a determinados conceitos que eram o CPA, o CSA e o CRA. A AE retira o poder do docente, o poder da medição dos produtos alcançados, o poder de medir o que foi memorizado, aprendido (ou não) pelos alunos e transfere o poder de forma colaborativa não mais apenas para um lado da relação professor-aluno, mas busca estabelecer que, a partir dessa relação, observando o nível de interação entre professor-aluno, aluno-aluno e aluno-conhecimento é possível obter uma análise mais acurada da realidade do processo de ensino-aprendizagem. Assim, o educando assume o espaço de protagonista e passa a realizar sua autoavaliação juntamente com a manutenção dos processos avaliativos por parte dos docentes. Contudo, o pouco debate existente no campo da avaliação e as poucas formações realizadas relatadas pelos professores causaram prejuízo a nível de entendimento e aprofundamento das práticas avaliativas emancipatórias. Ao longo da investigação, percebemos que os princípios daquela ideologia, denominada meritocracia, estão atrelados e se materializam na forma de práticas escolares. Uma delas é a avaliação que pode ser de cunho seletivo e classificatório, corroborando, dessa forma, para uma avaliação que podemos denominar de caráter meritocrático. Nesse sentido, a meritocracia se impõe através de movimentos da práxis pedagógica dos professores – muitas vezes, de maneira inconsciente. A meritocracia se perpetua através do tempo e passa de uma geração para outra como se fosse algo comum, que sempre estivesse ali, indissociável da forma de ser da educação, algo quase natural (mas é cultural), que não pode ser contestado, uma vez que aparece como não disponível às mudanças. Por isso, inúmeras vezes observamos a prática da avaliação meritocrática no discurso docente de que é necessário avaliar com rigidez para que os alunos possam compreender que a disputa está dada logo ali na frente no concurso, no vestibular, no ENEM. Percebemos, então, o
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