Políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

278 Uma análise da internacionalização da educação superior “necessária” através... vessem um conhecimento autônomo e representativo da realidade latino-americana, a fim de compreendê-la a partir de suas próprias características. No entanto, no trabalho de pesquisa, não se pretendeu rejeitar algumas contribuições de autores de outras regiões, uma vez que se entendeu que elas poderiam contribuir com a análise, desde que seja de uma perspectiva crítica e colabore respeitando a identidade dessa realidade autóctone. O segundo tema que fez parte da dimensão teórica da pesquisa foi a educação superior e a tensão entre um modelo hegemônico e um modelo de universidade crítica. Para caracterizar e analisar essa disputa, tomou-se como referência a abordagem teórica de Ribeiro (1975), na qual os dois modelos são identificados como: universidade questionada e universidade necessária. A universidade questionada está inserida dentro da concepção de educação como um serviço, que pode ser vendido para gerar lucro e onde os alunos são considerados clientes. De acordo com este modelo, a educação é ser um privilégio para uma pequena porcentagem da população, aqueles que estão no topo da pirâmide, reforçando o caráter elitista e exclusivo dessa “torre de marfim”. Por meio dessa concepção, a universidade e seus atores permanecem dentro dos muros institucionais, cada vez mais afastados da sociedade e de seus conflitos. Por outro lado, a universidade necessária é aquela projetada por Ribeiro (1975) como a instituição desejada para a América Latina. Nela, as aspirações e demandas das classes subalternas são representadas, colocando a educação como um direito e não como um privilégio. Sob este modelo, o desenvolvimento autônomo permite a valorização do conhecimento local/regional e a promoção de uma visão crítica do mundo. Consequentemente, a interculturalidade é transformada em uma das características da universidade necessária, permitindo uma troca recíproca e transversal desde o sul e para o sul. De acordo com Dussel (2016, p. 62), “‘Transversal’ indica aqui que o movimento se dá a partir da periferia para a periferia [...] as ‘diferenças’ dialogam a partir de suas várias negatividades, distintas, sem necessidade de atravessar o ‘centro’ da hegemonia”, o que implica que aqueles externos à totalidade da modernidade, isto é, grupos de imigrantes, camponeses, trabalhadores, mulheres, estudantes estrangeiros, entre outros; se vinculem internacionalmente através das fronteiras físicas de seus países, sem intermediários e sob seus próprios códigos.

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