277 María Julieta Abba ma de ‘Estrutura Cultura Latino-americana’, formada a partir da identificação de elementos comuns em todas as culturas nacionais. Outras contribuições que colaboraram para a análise na pesquisa foram os conceitos de ‘antropofagia’ de Oswald de Andrade (1928) e ‘Caliban’ de Roberto Fernández Retamar (2006). Para Andrade (1928), a antropofagia representa a união entre o ato de devorar a cultura estrangeira e a digestão dela de uma forma alterada com a nossa realidade. A incorporação dessa cultura exógena tem um vínculo inegável com a origem desse alimento (civilização moderna), de modo que, no processo de engolir, tentará incorporar as virtudes e descartar as misérias dessa civilização. Tomando esse último aspecto como referência, Andrade (1928) inspira-se para colocar na forma de um manifesto, uma crítica da exaltação de outras culturas, a ponto de ingeri-las diretamente, provocando um desprezo pela cultura autóctone. O outro conceito, que dialoga com o da antropofagia, é o Caliban. Esta é uma deformação da palavra “canibal”, que se refere ao devorador feroz da carne humana, quem representa a figura do escravo selvagem e deformado na peça A Tempestade de William Shakespeare (1611), na qual Prospero (caracterizando ao duque de Milão), rouba a ilha pertencente ao Caliban, logo o escraviza e lhe ensina sua língua. Como argumenta Retamar (2006), A Tempestade de Shakespeare é o cenário simbólico do continente Americano, sendo o Caliban uma mitificação do Caribe e Prospero uma personificação do colonizador. Neste cenário, a linguagem é usada como um instrumento de dominação, mas ao mesmo tempo é uma ferramenta para discussão e questionamento do Caliban aos colonizadores. Dessa forma, Retamar (2006, p.15, tradução nossa) pergunta-se “[...] de que outra forma pode fazê-lo, senão em uma de suas línguas, que já é também nossa língua, e com tantos de seus instrumentos conceituais, que também já são nossos instrumentos conceituais”. Embora ambos os autores (Retamar e Andrade) tenham utilizado diferentes conceitos de maneira metafórica, eles estão unidos pela crítica ao processo de colonização e às consequências que isso trouxe para a conformação da identidade latino-americana. Nesse sentido, podemos encontrar outros autores, os clássicos de nossa região, como Simón Bolívar, José Martí, José Cárlos Mariátegui, entre outros; que também fizeram parte dessa crítica ao poder colonial, liderando o movimento de resistência frente a essa dominação. Alguns destes homens destacaram a necessidade de desenvolver projetos políticos que envol-
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