Políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

234 Do papel da universidade aos fundamentos do MESP: uma análise da colaboração acadêmica instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio acesso aos rudimentos desse saber. As atividades da escola básica devem organizar-se a partir dessa questão. Se chamarmos isso de currículo, poderemos então afirmar que é a partir do saber sistematizado que se estrutura o currículo da escola elementar. [...] Está aí o conteúdo fundamental da escola elementar: ler, escrever, contar, os rudimentos das ciências naturais e das ciências sociais (história e geografia). A essa altura vocês podem estar afirmando: mas isso é o óbvio. Exatamente, é o óbvio. E como é frequente acontecer com tudo o que é óbvio, ele acaba sendo esquecido ou ocultando, na sua aparente simplicidade, problemas que escapam à nossa atenção. Esse esquecimento e essa ocultação acabam por neutralizar os efeitos da escola no processo de democratização. (SAVIANI, 2008b, p. 14). Assim, observamos que não há pressuposto teórico entre os autores abordados que legitime qualquer prática de doutrinação, no contexto da sala de aula, como afirma o MESP. Bem como, que o esforço dos referidos autores é a ampliação do que compreendemos por conhecimento, isto é, o conhecimento científico é um conhecimento entre outros conhecimentos de validade imprescindível para a formação humana. Os escritos de Saviani e Freire remontam a tradição do conceito de formação, que nos termos de Gadamer, 2013, p. 54, é o que caracteriza as ciências humanas como ciência, muito além da disputa pelo método aos moldes das ciências da natureza. Vejamos o texto de Weber novamente, agora sobre o papel da ciência na vida prática, que segue como continuação ao texto utilizado pelo MESP como fundamento teórico: Os cientistas podem – e devem – mostrar que tal ou qual posição adotada deriva, logicamente e com toda a certeza, quanto ao significado de tal ou qual visão última e básica do mundo. Uma tomada de posição pode derivar de uma visão única do mundo ou de várias, diferentes entre si. Dessa forma, o cientista pode esclarecer que determinada posição deriva de uma e não de outra concepção. [...] Se estivéssemos, portanto, enquanto cientistas, à altura da tarefa que nos incube (o que, evidentemente, é preciso aqui pressupor) poderemos compelir uma pessoa a dar- -se conta do sentido último de seus próprios atos ou, quando menos, ajudá-la em tal sentido. Parece-me que esse resultado não é desprezível, mesmo no que diz respeito à vida pessoal. Se um professor alcança esse resultado, inclino-me a dizer que ele se põe a serviço de potencias morais, ou seja, a serviço do dever de levar a brotarem, nas almas alheias, a clareza e o sentido de responsabilidade. Creio que lhe será tanto mais fácil realizar essa obra quanto mais ele evite, escrupulosamente, impor ou sugerir, à audiência, uma convicção. (WEBER, 2011, p. 46.).

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