231 Verônica Ventorini Ferreira Na prática, a coisa funciona assim: o professor questiona os alunos sobre o seu dia a dia, apresenta uma explicação ideológica para os problemas e insatisfações relatados, e depois discute com eles o que acharam desse conteúdo. Se os alunos discordarem da explicação, o professor argumenta em favor do seu próprio ponto de vista ideológico. Ao fim do diálogo, o professor conclui que os alunos que ele conseguiu convencer estão agora “conscientes” da sua “verdadeira” condição de oprimidos e explorados pela sociedade de classes. Ora, isso é apenas a dita “educação bancária” camuflada de diálogo! O professor apresenta uma única via para explicar as situações relatadas pelos alunos: a ideologia em que ele acredita. O aluno é deixado na ignorância sobre a existência de pesquisas que explicam as situações de pobreza, desigualdade, problemas urbanos e ambientais, entre outros, fora do universo teórico e ideológico do professor. (FILHO, 2018h.) O escrito do geógrafo paranaense responde seu próprio equívoco, a confusão não está no pensamento de Paulo Freire, mas na leitura equivocada prevista pelo autor como possibilidade de distorção de seu pensamento. [...] Nosso objetivo é chamar a atenção dos verdadeiros humanistas para o fato de que eles não podem, na busca da libertação, servir-se da concepção bancária, sob pena de se contradizerem em sua busca. Assim como também não pode esta concepção tornar-se legado da sociedade opressora à sociedade revolucionária. A sociedade revolucionária que mantenha a prática da educação “bancária” ou se equivocou nesta manutenção, ou se deixou “morder” pela desconfiança e pela descrença nos homens. Em qualquer das hipóteses, estará ameaçada pelo espectro da reação. (FREIRE, 1987, p. 66). O que significa que a prerrogativa de que os estudantes estão condenados ao silêncio, em uma educação pautada por teorias críticas, é falaciosa e contraditória com as teorias críticas. Trata-se de uma condição transposta de um contexto histórico longínquo para nosso tampo, que no âmbito escolar é caracterizado pela tentativa de superação dessa condição. Incorre, portanto, tal afirmativa, em erro de compreensão sobre o pensamento freiriano e anacronismo sobre figura do estudante contemporâneo. Da retirada do silêncio, como condição ontológica do estudante, se descortina, no âmbito escolar, a dimensão política, que nada mais é que a interação entre cidadãos no espaço público. A relação política é mediada pela ação ética, é nesse sentido que se pode pensar uma éti-
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