Políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

227 Verônica Ventorini Ferreira trinação, produzindo conhecimentos objetivos. No ambiente da sala de aula o professor deve transmitir o conhecimento científico e informações factuais, explicar objetivamente os fenômenos, apresentar diversidade de teorias e preparar para o mercado de trabalho. Os autores apresentados são poucos: Bernadete Gatti, Karl Popper, Max Weber e Olavo de Carvalho. Ao se referir a neutralidade do professor o pensamento weberiano é a referência principal, aparecendo na Sessão FAQ e nos textos de dois autores. Weber trata essa questão diretamente no texto “A ciência como vocação”, afirmando o papel passivo dos estudantes frente ao falar docente. O excerto utilizado pelo movimento se encontra atrelado ao estudo da seguinte questão “Instalou-se, em nossos dias o hábito de falar insistentemente numa “ciência sem pressupostos”. Existe uma tal ciência?” (WEBER, p. 36), após discorrer sobre as ciências da natureza, a medicina, a estética e o direto, Weber trata das filosofias da cultura, afirmando a legitimidade de estudos políticos e das doutrinas de partidos, mas negando a valoração como característica didática nesses estudos: Costuma-se dizer, e eu concordo, que a política não tem seu lugar nas salas de aulas das universidades. Não o tem, antes de tudo, no que concerne aos estudantes. [...], Mas a política não tem lugar também, no que concerne aos docentes. E, antes de tudo, quando eles tratam cientificamente de temas políticos. Mais do que nunca, a política está, então deslocada. Com efeito, uma coisa é tomar uma posição política prática, e outra coisa é analisar cientificamente as estruturas políticas e as doutrinas de partidos. [...] Numa sala de aula, enfrenta- -se o auditório de maneira inteiramente diversa: o professor tem a palavra, mas os estudantes estão condenados a silêncio. [...] A um professor é imperdoável valer-se de tal situação para buscar incutir, em seus discípulos, as suas próprias concepções políticas, em vez de lhes ser útil, como é de seu dever, através da transmissão de conhecimentos e de experiência científica. Pode, por certo, ocorrer que este ou aquele professor só imperfeitamente consiga fazer calar sua preferência. Em tal caso, estará sujeito à mais severa das críticas no foro de sua própria consciência. Uma falha dessas não prova, entretanto, absolutamente nada, pois que existem outros tipos de falha como, por exemplo os erros materiais, que também nada provam contra a obrigação de buscar a verdade. (WEBER, 2011, 38-40). O pensamento de Weber está situado em um contexto de pensamento em que a filosofia parira a filha moderna, cuja silhueta fora apresentada duzentos anos antes por Descartes e Bacon, isto é, a ciência experimental como único modo de acesso ao conhecimento. Os con-

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