221 Verônica Ventorini Ferreira caremos em cada texto preceitos para docentes e/ou cientistas e estudantes, bem como, os autores convergentes e divergentes às propostas. Em uma segunda etapa elaboraremos o modo como percebemos os preceitos defendidos para professores e estudantes. Então, poderemos nos deter no detalhamento dos juízos que sustentam o MESP. Nossa compreensão não exige que remontemos ao contexto de criação dos textos, mas é necessário destacar o papel da universidade na sociedade, para que possamos estabelecer o significado pretendido para o discurso da ciência no mundo não acadêmico. O PAPEL DA UNIVERSIDADE As universidades não são, nem devem ser, um refúgio alienado das mazelas humanas. As universidades são, e devem ser, o espaço que acolhe os que se dedicam a pensar o mundo, seja pela via das ciências naturais ou do espírito, sem desconsiderar que todo o estudo empreendido repercute direta e indiretamente sobre a vida da sociedade. Os estudos superiores no Brasil, as primeiras faculdades, foram criadas após a vinda da família real portuguesa em 1808. Em fevereiro do mesmo ano foi criada a faculdade de medicina, em 1827 a faculdade de direito. Assim, as universidades brasileiras foram originalmente marcadas pela cultura do bacharelismo, isto é, tinham por finalidade a formação de quadros políticos, administrativos e culturais para o país. O estigma que esse processo lega ao país pode ser percebido pelo fato de que apenas em 1908 foi criada a primeira faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a Faculdade de São Bento3, em São Paulo. Compreende-se, a partir dessa breve retomada, que a pesquisa não era o foco das universidades, mas que a contribuição para a sociedade se dava pelo provimento de pessoas qualificadas para compor um quadro de governantes para o Brasil. O país viveu a Revolução de Outubro de 1930, cuja finalidade era liberar o Brasil das oligarquias mineira e paulista. Em novembro do mesmo ano Getúlio Vargas, como governo provisório, apresenta o plano de reconstrução nacional que, entre outros ministérios, criou o Ministério da Educação e Saúde Pública. Então, com a gestão de Francisco Campos, entre 1930 e 1932, foi iniciado o processo de abertura e 3 A Faculdade de São Bento, foi assistida pela Universidade Católica de Louvaina até 1940.
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