220 Do papel da universidade aos fundamentos do MESP: uma análise da colaboração acadêmica texto da maneira mais obstinada e consequente possível – até que este acabe por não poder ser ignorado e derrube a suposta compreensão. Em princípio, quem quer compreender um texto deve estar disposto a deixar que este lhe diga alguma coisa. (GADAMER, 2013, p. 358). O modo como se dá a percepção de um preconceito, por certo, recai no estranhamento com que chega o sentido do texto ao nosso horizonte de compreensão. Enquanto a suspensão dos preconceitos significa que é possível “dar-se conta dos próprios pressupostos, a fim de que o próprio texto possa apresentar-se em sua alteridade, podendo assim confrontar sua verdade com as opiniões prévias”. (GADAMER, 2013, p. 358). Sob os preconceitos da liberdade e da razão a Aufklärung, afirma Gadamer (2013, p. 370), deformou o conceito de autoridade, relegando o conhecimento de seu “significado a partir da terminologia da crítica às ditaduras modernas.”. Assim, a autoridade é assimilada com o comportamento de pessoas cujas opiniões são cegamente aceitas e executadas como ordens. Essa definição passa ao largo do reconhecimento da autoridade. [...] antes, a autoridade é e deve ser alcançada. Ela repousa sobre o reconhecimento e, portanto, sobre uma ação da própria razão que, tornando-se consciente de seus próprios limites, atribui ao outro uma visão mais acertada. [...]. É assim que o reconhecimento da autoridade está sempre ligado à ideia de que o que a autoridade diz não é uma arbitrariedade irracional mas algo que em princípio pode ser compreendido. É nisso que consiste a essência da autoridade que exige o educador, o superior, o especialista. (GADAMER, 2013, p. 371). A tradição é percebida como historicidade que nos condiciona e se apresenta em nosso próprio modo de ser no momento histórico. Assim, a tradição é o que permanece quando observamos as mudanças históricas, a educação é um bom exemplo, ao longo da história das humanidades a educação ganha significados diferentes, mas educar o humano permanece. Logo, o clássico na educação é tornar o humano capaz de viver entre os humanos. Para nós importa que a voz da tradição nos aproxime, pelo tensionamento entre permanência e mudança, do horizonte de sentido dos textos. As considerações teóricas que expomos refletem a relação ética que temos frente ao dito do outro, mas é necessário esclarecer o modo sistemático como serão lidos os textos. Sendo assim, inicialmente bus-
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