Políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

195 Graziela Rossetto Giron e Mônica de Souza Chissini CRISE OU NOVAS RELAÇÕES NAS POLÍTICAS PÚBLICAS? Pode-se dizer que se vive hoje, no Brasil, uma crise de credibilidade das organizações formais (governos, justiça, órgãos legislativos) e muito disso deve-se à falta de confiança do povo brasileiro no trabalho realizado pelas instituições públicas. A visão deteriorada que a sociedade tem do sistema político contribui para aumentar o sentimento de impotência das pessoas, reduzindo, significativamente, o nível de demanda popular sobre o sistema político. Num cenário em que predominam os interesses pessoais em detrimento dos coletivos, onde políticos trocam votos por dinheiro e por empregos em instituições públicas (esvaziando-se, assim, o sentido da representação política), onde se percebe uma fragmentação cívica e ética das instituições da sociedade, não se pode esperar muito do poder executivo, nem do legislativo, quanto menos do judiciário. “A saída está na recuperação de valores fundamentais, tais como a cidadania, a liberdade e a justiça social” (CAMPOS, 1990, p. 38), que só poderão ser conquistadas através de um maior investimento nas relações democráticas entre a população e o Estado. Anna Maria Campos (1990) acredita que exista uma relação direta entre a causalidade, o desenvolvimento político e a competente vigilância do serviço público; defende que quanto menos amadurecida está a sociedade, menos provável que se preocupe com a gerência das ações do Estado. Os controles formais internos à burocracia não são suficientes para garantir excelência na administração pública, pois essa depende de fatores externos à burocracia, entre eles, a alteração e ampliação de controles burocráticos (através da inclusão de dimensões como desempenho com eficácia, efetividade e justiça social), além da expansão do número de controladores e a sua representatividade no processo. Evidenciar esse deslocamento no que se refere à forma como Estado e sociedade vêm se relacionando, a partir do mecanismo de accountability, e investigar como o Estado vem operando mudanças em diferentes aspectos econômicos, sociais e culturais são esforços pertinentes, uma vez que a responsabilização dos serviços públicos oferecidos e bens produzidos deve objetivar a transparência e à busca pela qualidade. Ademais, ao se criar um novo padrão de relacionamento cooperativo entre a população e as autoridades governamentais, pautado em experiências de organização participativa e comunitária, certamente

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