190 Políticas e suas interfaces na esfera pública: decisão, construção e regulação tação e tradução de políticas públicas. Seu potencial teórico-metodológico permite investigar, além de inúmeros aspectos do processo de constituição de políticas públicas, como as políticas são vividas e em que medida se efetivam no contexto da prática, ou ainda, analisar até que ponto a produção das políticas públicas se faz de modo descentralizado, haja vista a busca pela inserção de diferentes segmentos em todas as etapas da construção de políticas, das tomadas de decisão à implementação de textos legais. No contexto educacional, cabe assegurar processos de construção de políticas públicas mais participativas e com ampliado espaço para debate por parte dos agentes sociais envolvidos, evitando a prevalência de estruturas de criação de políticas de “cima para baixo”, com abissais distâncias entre o que define o legislador e o que acontece na escola. Não se trata de conferir autonomia à escola, no sentido de descolá-la de seu compromisso e finalidade social, mas de enfatizar que a democratização no processo de definição de políticas públicas para a educação deve acontecer levando em conta uma perspectiva de “rede”, que conecta os diferentes segmentos que, não hierarquizados, propõem, constroem e traduzem políticas com maior horizontalidade. À vista disso, com o intuito de ampliar essa reflexão, Ball (2001) defende que a criação de políticas se dá através de um processo denominado bricolagem, um constante empréstimo/cópia de fragmentos e partes de ideias de outros contextos, de uso e melhoria das abordagens locais já tentadas e testadas, de teorias de investigação, de adoção de tendências e modas e, por vezes, de investimento em tudo aquilo que possa vir a funcionar. Sob essa perspectiva, o autor defende que as diferenças entre as propostas políticas são questões mais de ênfase do que de distinção e que, atualmente, a posição “pós-política é apresentada como essencialmente pragmática e, por consequência, livre de ideologia” (BALL, 2001, p. 101). Complementa dizendo: [...] estamos caminhando para aquilo que poderia ser chamado o fim da política. Ou seja, podem alguns argumentar, é cada vez mais difícil distinguir entre políticas educativas de partidos políticos tradicionais rivais e que, em muitos casos, políticas nacionais são atualmente definidas em termos de diferentes manifestações da globalização. (BALL, 2001, p. 100). Esse teórico explicita que as modificações na política mundial se apoiam, em princípio, nas linhas básicas da tese da globalização, que defende uma transformação radical nas questões econômicas, culturais,
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