Políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

189 Graziela Rossetto Giron e Mônica de Souza Chissini (um pensa e o outro executa). A formulação e a implementação de políticas são procedimentos que vão acontecendo ao longo do processo, e que sofrem modificações e inferências dos diferentes setores envolvidos. Essa forma de enxergar a construção de políticas, entre outras coisas, possibilita refletir sobre como os diferentes agentes políticos (população em geral e gestores públicos) exercem um papel ativo no processo de interpretação e reinterpretação, mesmo não tendo consciência disso. As políticas sempre serão criadas e interpretadas de acordo com a história, experiência, valores, propósitos e interesses das pessoas inseridas num determinado contexto, pois interpretação é uma questão de disputa (se relaciona com interesses diversos). Como diz Leonardo Boff (1997, p. 9), “todo ponto de vista é a vista de um ponto; [...] a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam”. A maior parte das políticas são frágeis produtos de acordos, algo que pode ou não funcionar; elas são retrabalhadas, aperfeiçoadas, ensaiadas, crivadas de nuances e moduladas através de complexos processos de influência, produção e disseminação de textos; em última análise, recriadas nos contextos da prática. (BALL, 2001). Pressupõe o envolvimento e a participação dos diferentes setores sociais nas decisões a serem tomadas, uma vez que toda sociedade é responsável pela criação e recriação dessas propostas. Logo, no que tange ao processo de recriação das políticas, ressalta-se o contexto de práticas como aquele de fabricação, adesão ou subversão de políticas. É nesse contexto que opera o policy enactment, o qual consiste nos modos como são traduzidas as políticas. Para além dos tensionamentos de criação e implementação dos textos legais que sustentam determinados princípios políticos, o enactment acontece na possibilidade de indagação por parte dos sujeitos afetados pela produção da peça legal acerca de seus objetivos. Para tanto, constitui-se, justamente, como espaço de recriação, na medida em que os sujeitos podem analisar, problematizar, aderir ou rejeitar a proposição legal. Por essa razão, destaca-se o contexto da prática, uma vez que é nele que se pode (ou não) evidenciar aderência a uma determinada peça legal. Da mesma maneira, é nele, também, que os subordinados às políticas fazem a sua própria política, traduzindo-a em suas práticas. Nesse sentido, a abordagem do Ciclo de Políticas, de Ball e Bowe, constitui-se numa ferramenta significativa para pensar democraticamente avanços e retrocessos no processo de produção, implemen-

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