Políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

123 Quênia Renee Strasburg Broad (2006), utilizando entrevistas com altos integrantes da equipe do BM e com a análise do trabalho de dois economistas, David Dollar e Branko Millanovic, encontrou seis mecanismos8 de manutenção do paradigma neoliberal. Com base em documentos confidenciais do BM, a autora afirma, que é evidente qual ressonância9 o Banco espera de suas pesquisas. Nestes estudos, o tratamento dado aos temas relacionados à globalização, não são tidos como uma hipótese ou uma pergunta, mas como um fato, para o qual, o BM já tem a resposta. Os seis mecanismos, elencados pela autora, explicam como o BM ganhou rápida notoriedade, destacando-se como instituição de pesquisa. Entretanto, os mesmos mecanismos comprovam que as pesquisas financiadas e divulgadas pelo BM não são de cunho puramente científico, mas servem a um determinado paradigma. As pesquisas realizadas sob uma pretensa neutralidade têm garantido a autoridade do Banco neste início do século XXI. O CONHECIMENTO COMO FUNDAMENTO ECONÔMICO De acordo com Robertson (2008), o conhecimento está para o século XXI como a globalização estava para os anos 1990. A sociedade 8 O primeiro mecanismo é a contratação que prefere formar equipes quase que exclusivamente de economistas que define o modus operandi das pesquisas de método quantitativo em detrimento ao método qualitativo. Os economistas selecionados, na sua maioria, são provenientes de universidades americanas e/ou britânicas, as quais têm um currículo homogêneo de economia clássica liberal. O segundo mecanismo é a promoção, na qual há regras para os pesquisadores que desejam fazer carreira dentro da instituição. O profissional precisa publicar internamente nos documentos do BM e externamente em revistas acadêmicas. O terceiro mecanismo utilizado é a aplicação seletiva de regras, se o trabalho do pesquisador não for adequado para o Banco, a pesquisa pode nunca vir a ser publicada. O quarto mecanismo é desencorajar o discurso dissonante através da premissa de que os que pensam diferente são idiossincráticos. O quinto mecanismo é a manipulação de dados, que pode ocorrer se a pesquisa não reforça o paradigma neoliberal. Há evidências que o BM manipula dados como mostrou o documento com mais de 350 páginas sobre “Lições do NAFTA para os países da América Latina e do Caribe”. Broad (2006) sugere que o BM entende que de fato grande parte das pessoas que leem os relatórios, incluindo jornalistas, não farão uma análise dos dados das tabelas e gráficos. Dessa maneira, ao concentrar a leitura no resumo e na explicação dos dados, não há como notar as discrepâncias e contrariedades. O sexto e último mecanismo do BM é a projeção externa que tem ganhado nas últimas décadas a produção do seu conhecimento, através das parcerias com instituições, mídia, órgãos de governo, comunidades locais e pelo website do Banco, que dissemina suas publicações ao redor do mundo ganhando grande projeção. (BROAD, 2006). 9 A palavra ressonância foi utilizada pela grande maioria dos entrevistados de Broad (2006) e parece ser a palavra utilizada pela equipe do BM para definição de pesquisas.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz