Políticas educacionais: contextos e análises contemporâneas

121 Quênia Renee Strasburg também no que se refere ao seu ideal de sociedade e de educação que sirvam à produção de um capital humano7 de contenção à pobreza. O BM mantém, nas últimas décadas, a tarefa tanto de difundir como de induzir as ideias de mercado nos países do mundo. Durante esse período, as principais agências internacionais e governamentais – Banco Mundial (BM), Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), United States Agency for International Development (Usaid) – desempenharam papéis cada vez mais instrumentais no avanço das ideias do livre mercado como base para o desenvolvimento. Em países de baixa renda, projetos políticos de matriz neoliberal avançaram por meio de políticas de ajuste estrutural propostos pelo BM/FMI (Samoff, 1994). Este repertório político, que incluía a descentralização, a privatização e a cobrança de taxas, teve consequências devastadoras não só na qualidade e na capacidade desses sistemas de ensino, mas também para as sociedades como um todo nas quais se inserem, tendo em vista a crescente polarização social e os níveis de desigualdade (Bonal, 2002; Ilon, 1994). A OCDE desenvolveu semelhante agenda neoliberal – embora, neste caso, destinada a países de alta renda (Rizvi & Lingard, 2006) – descentralização, autonomia institucional (em oposição a formas burocráticas de organização) e introdução da escolha dos pais. (ROBERTSON; VERGER, 2012, p. 1137). Dessa maneira, muitas das políticas em educação que têm se expandido e se consolidado, nas últimas décadas, na América Latina e no Brasil têm suas bases fortemente alicerçadas nos princípios de desenvolvimento econômico do BM e seus parceiros para o terceiro mundo. No início dos anos 2000, a pauta passou a concentrar-se no mercado e no empreendedorismo através da ação de parcerias, conforme Robertson e Verger (2012) com organismos como a Unicef que, desde cedo, propunha ações de colaboração e financiamento no setor 7 Capital Humano como um conceito fechado foi formulado por Theodore Schultz, mas suas bases foram lançadas bem antes disso. A origem estaria em Adam Smith, Alfred Marshall e Irving Fisher. Schultz, na década de 1950, tinha como objetivo compreender o motivo das desigualdades econômicas e sociais entre as nações e grupos de indivíduos no contexto do pós-Segunda Guerra Mundial. A explicação para essas desigualdades foi justificada pela diferença existente no investimento humano. Em seu livro Valor Econômico da Educação, Theodore Schultz (1967) explica que seu objetivo foi trazer para a educação a colaboração da análise econômica. Desde 1994, pesquisadores alemães elegem anualmente, palavras que consideram como não palavra (unwort em alemão). Segundo os pesquisadores, há palavras que não são adequadas ao termo designado e que, às vezes, até violam a dignidade humana. Em 2004, capital humano foi a palavra eleita como não palavra com a justificativa de que “degrada pessoas a grandezas de interesses meramente econômicos” (ALTVATER, 2010, p. 75).

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