119 Quênia Renee Strasburg e/ou produtivos em função de não trazerem retorno financeiro. Entre as áreas sociais estavam a educação, o fornecimento de água potável, o saneamento básico, a nutrição, a saúde primária, a habitação e o planejamento familiar. (PEREIRA, 2010). Durante a década de 1970, ocorreu o incentivo para criação do departamento de pesquisas do BM, com o objetivo de “estabelecer uma base sólida de dados e conceitos para a formulação mais abrangente de políticas e programas econômicos e, assim, apoiar a expansão das operações financeiras”. (PEREIRA, 2010, p. 265). O departamento foi chefiado por Hollis Chenery, que havia trabalhando como economista na Europa durante o Plano Marshall e também havia sido funcionário da USAID e professor de economia nas universidades de Stanford e Harvard. A função de Chenery foi construir a base de dados do BM para a expansão agressiva das suas atividades internacionalmente. Algum tempo depois, começaram a aparecer os frutos dessa investida, por meio de publicações nas mais diversas áreas. Após as definições de ataque à pobreza rural, em 1976 foi lançado o programa de desenvolvimento urbano para o ataque a pobreza absoluta nas áreas urbanas. Nesse sentido, Kay (2006 apud Pereira, 2014) registra que o BM criou a ciência da pobretologia pela execução de seus projetos e também pela construção de um ideal de atuação que ia além de interesses econômicos e se organizava com a finalidade social de mais alto calibre. O imperativo político do combate à pobreza foi atualizado de forma contínua pelos estudos e publicações do Banco de forma que introduziu nas políticas de diversas áreas um vocabulário próprio. O alargamento do campo de estudos dedicado a essa temática alimentou a gradativa imposição e legitimação de um novo vocabulário (centrado em termos como eficiência, mercado, renda, ativos, vulnerabilidade, pobre etc.), em detrimento de outro (como igualdade, exploração, dominação, classe, luta de classe, trabalhador etc.). Enfim, não apenas se estabeleceu um modo de interpretar e categorizar a realidade e a questão social, como também se desenhou uma nova agenda político-intelectual ancorada na “ciência da pobreza” e na “gestão política da pobreza” pela via da concessão de crédito, e não propriamente da filantropia, ainda que McNamara acionasse a retórica filantrópica da “ajuda aos pobres” com frequência (Pereira, 2010). A ideia de que a superação da pobreza aconteceria, fundamentalmente, pelo aumento da “produtividade dos pobres”, no campo e na cidade, tinha como premissa a compreensão de que vivia em condições de pobreza apenas quem não estivesse inserido em atividades consideradas produtivas. (PEREIRA, 2014, p. 87).
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